Ele há coisas que eu cá sei, que só se fazem curvado...
Se há conceitos que, no contexto da música popular, não compreendo muito bem o seu significado, uma delas é o conceito de "supergrupo", termo geralmente usado para designar grupos musicais cujos membros têm "pedigree" anterior à formação da mesma. O raciocínio empírico dir-nos-ia que a soma do potencial individual destes conjuntos resultaria num potencial colectivo exponenciado. No entanto, a lógica nunca ditou leis na música.
No domínio da música nacional, este conceito tem sido aplicado várias vezes, para diferentes propósitos. Temos o exemplo dos Resistência, um agrupamento de músicos de diversas bandas pop/rock dos 80s, cujo reportório era baseado, essencialmente, na "reciclagem" acústica dos "hits" dessas mesmas bandas, com bastante sucesso comercial no início da década de 90, e que lançou um novo fenómeno na música nacional de então: a voz rouca do Olavo Bilac. Temos também o exemplo do Palma's Gang, formado pelo Jorge Palma, Flak dos Rádio Macau, e Zé Pedro e Kalu dos Xutos, cujo reportório era baseado, essencialmente, na "reciclagem" rock de parte do catálogo do Jorge Palma. Temos o exemplo dos Madredeus, formado por ex-elementos dos Heróis do Mar e Sétima Legião, e que criaram um dos mais consistentes e originais reportórios no que à música nacional diz respeito, e lançaram aos leões uma das melhores vozes cá do canto, Teresa Salgueiro. Há também o exemplo, mais recente, dos Humanos, formados pelo Camané, David Fonseca "ex-Silence Four", e elementos dos Clã e BunnyRanch, e cujo reportório foi baseado na "reciclagem" da obra nunca editada do António Variações. Cada supergrupo ao seu jeito, com mais ou menos reconhecimento crítico ou sucesso comercial.



Outro conceito que me faz cócegas na garganta, outra vez no contexto da música popular, é o álbum conceptual. A crença por parte do artista (ou artistas) que uma história por trás de um álbum vai prender o interesse dos possíveis ouvintes, pode resultar em termos criativos, mas ainda alguém me venha que convencer que, sem o "Não há estrelas no céu" ou "A paixão", o "Mingos e os Samurais" do Rui Veloso tinha sido um dos álbuns mais vendidos de sempre da música portuguesa. Ou que, sem o "Budapeste", o "Mutantes do Sec. XXI" dos Mão Morta tinha chegado a algum lado. Isto porque, ao final do dia, o ouvinte quer sempre aquela música de 3, 4 min. que pode recordar e cantarolar no chuveiro, porque a primavera da vida é bonita de viver, sempre a rock'n'rollar.




Mas todos os casos têm excepções. E na música portuguesa, existe uma excepção que atravessa os dois conceitos supra-citados. Chamaram ao projecto Rio Grande.
Os Rio Grande não foram um supergrupo. Os Rio Grande foram O Supergrupo. Debatível, claro. Musicalmente, eram constituídos por alguns dos elementos seminais da cena musical portuguesa.

- Vitorino, cantor popular português de origem alentejana, origem bastante marcada no sotaque com que interpreta as canções, intérprete de uma das músicas mais cantadas do imaginário tuga, "Menina estás à janela".

- Tim, vocalista e baixista dos Xutos e Pontapés, a banda de rock mais respeitada e popular cá do canto.

- Rui Veloso, históricamente considerado o autor do primeiro álbum de rock português, "Ar de Rock", e estatisticamente autor do álbum português mais vendido de sempre (até agora, claro), o duplo "Mingos e os Samurais".

- Jorge Palma, o "dandy" tuga, o anti-herói do grupo, pianista de conservatório e guitarrista de rua, autor de clássicos de hoje e sempre, "Deixa-me rir", "Frágil", só para citar os mais conhecidos.

- E João Gil, ex-Trovante, ex-Ala dos Namorados, ex-Catarina Furtado, co-autor de outros clássicos da música portuguesa, como "Loucos de Lisboa" ou "125 Azul", e possuidor de uma das franjas mais comentadas pelas ladies do jet-set.
Tudo malta que somada, deve dar uns quantos discos de platina. Mas os Rio Grande não começaram por ser um supergrupo. Inicialmente, foram um projecto conceptual, que partiu de poemas escritos por João Monge, na altura, letrista da Ala dos Namorados, e como tal, com contacto directo com João Gil. Estes poemas, algo auto-biográficos, versavam sobre um rapaz que nasce, cresce e casa-se nos campos do Alentejo, acabando, por dificuldades económicas, por migrar para a zona da Margem Sul, como tantos outros da sua geração, trabalhando na Lisnave, e educando o seu filho no suburbanismo de Lisboa, posteriormente vendo aparecer o seu neto. Uma história simples, sem heróis nem vilões, com a qual muito do povo português, essencialmente os suburbanos da zona de Lisboa, se identificava. E o mesmo se passou com João Gil, que musicou os poemas, e "recrutou" os pesos-pesados nomeados acima, para interpretar o conto de João Monge ao público em geral. O resultado foi um grande sucesso comercial, resultado da conceptualização do álbum, num país de tantos migrantes e imigrantes, da fama dos intérpretes, cada um deles com um culto e uma imagem muito particular, e de canções que, apesar da simplicidade de processos e letras trabalhadas, conseguiram furar o "airplay" das rádios e entrarem pela casa do público.
O álbum, simplesmente chamado "Rio Grande", foi lançado em 1996, vendeu centenas de milhares de cópias, e deixou uma marca profunda no publico português, que quase que exigiu uma "comeback" dos Rio Grande, que acabou por acontecer, primeiro num álbum ao vivo, em que interpretavam o seu reportório colectivo bem como individual, e depois na criação de um segundo supergrupo, os Cabeças no Ar, formado pelos mesmos músicos exceptuando o Vitorino, de um segundo letrista, Carlos Tê, e de um segundo conceito, os dias de escola, sem que o resultado final, tanto criativo como comercial, tenho preenchido as expectativas. Porque há coisas irrepetíveis...
Álbum:Rio Grande- um "greatest gig in the sky"

Faixas:
01. A fisga
02. O Caçador Da Adiça
03. Fui Às Sortes e Safei-me
04. O Dia do Nó
05. Sobrescrito
06. Lisnave
07. Dia de Passeio
08. Postal Dos Correios
09. Senta-te Aí
10. Ponte do Guadiana
11. Senta-te Aí (instrumental)
Dia de Passeio
Fui às sortes e safei-me
A Fisga
O Sobrescrito



Outro conceito que me faz cócegas na garganta, outra vez no contexto da música popular, é o álbum conceptual. A crença por parte do artista (ou artistas) que uma história por trás de um álbum vai prender o interesse dos possíveis ouvintes, pode resultar em termos criativos, mas ainda alguém me venha que convencer que, sem o "Não há estrelas no céu" ou "A paixão", o "Mingos e os Samurais" do Rui Veloso tinha sido um dos álbuns mais vendidos de sempre da música portuguesa. Ou que, sem o "Budapeste", o "Mutantes do Sec. XXI" dos Mão Morta tinha chegado a algum lado. Isto porque, ao final do dia, o ouvinte quer sempre aquela música de 3, 4 min. que pode recordar e cantarolar no chuveiro, porque a primavera da vida é bonita de viver, sempre a rock'n'rollar.




Mas todos os casos têm excepções. E na música portuguesa, existe uma excepção que atravessa os dois conceitos supra-citados. Chamaram ao projecto Rio Grande.
Os Rio Grande não foram um supergrupo. Os Rio Grande foram O Supergrupo. Debatível, claro. Musicalmente, eram constituídos por alguns dos elementos seminais da cena musical portuguesa.
- Vitorino, cantor popular português de origem alentejana, origem bastante marcada no sotaque com que interpreta as canções, intérprete de uma das músicas mais cantadas do imaginário tuga, "Menina estás à janela".

- Tim, vocalista e baixista dos Xutos e Pontapés, a banda de rock mais respeitada e popular cá do canto.

- Rui Veloso, históricamente considerado o autor do primeiro álbum de rock português, "Ar de Rock", e estatisticamente autor do álbum português mais vendido de sempre (até agora, claro), o duplo "Mingos e os Samurais".

- Jorge Palma, o "dandy" tuga, o anti-herói do grupo, pianista de conservatório e guitarrista de rua, autor de clássicos de hoje e sempre, "Deixa-me rir", "Frágil", só para citar os mais conhecidos.

- E João Gil, ex-Trovante, ex-Ala dos Namorados, ex-Catarina Furtado, co-autor de outros clássicos da música portuguesa, como "Loucos de Lisboa" ou "125 Azul", e possuidor de uma das franjas mais comentadas pelas ladies do jet-set.
Tudo malta que somada, deve dar uns quantos discos de platina. Mas os Rio Grande não começaram por ser um supergrupo. Inicialmente, foram um projecto conceptual, que partiu de poemas escritos por João Monge, na altura, letrista da Ala dos Namorados, e como tal, com contacto directo com João Gil. Estes poemas, algo auto-biográficos, versavam sobre um rapaz que nasce, cresce e casa-se nos campos do Alentejo, acabando, por dificuldades económicas, por migrar para a zona da Margem Sul, como tantos outros da sua geração, trabalhando na Lisnave, e educando o seu filho no suburbanismo de Lisboa, posteriormente vendo aparecer o seu neto. Uma história simples, sem heróis nem vilões, com a qual muito do povo português, essencialmente os suburbanos da zona de Lisboa, se identificava. E o mesmo se passou com João Gil, que musicou os poemas, e "recrutou" os pesos-pesados nomeados acima, para interpretar o conto de João Monge ao público em geral. O resultado foi um grande sucesso comercial, resultado da conceptualização do álbum, num país de tantos migrantes e imigrantes, da fama dos intérpretes, cada um deles com um culto e uma imagem muito particular, e de canções que, apesar da simplicidade de processos e letras trabalhadas, conseguiram furar o "airplay" das rádios e entrarem pela casa do público.
O álbum, simplesmente chamado "Rio Grande", foi lançado em 1996, vendeu centenas de milhares de cópias, e deixou uma marca profunda no publico português, que quase que exigiu uma "comeback" dos Rio Grande, que acabou por acontecer, primeiro num álbum ao vivo, em que interpretavam o seu reportório colectivo bem como individual, e depois na criação de um segundo supergrupo, os Cabeças no Ar, formado pelos mesmos músicos exceptuando o Vitorino, de um segundo letrista, Carlos Tê, e de um segundo conceito, os dias de escola, sem que o resultado final, tanto criativo como comercial, tenho preenchido as expectativas. Porque há coisas irrepetíveis...
Álbum:Rio Grande- um "greatest gig in the sky"

Faixas:
01. A fisga
02. O Caçador Da Adiça
03. Fui Às Sortes e Safei-me
04. O Dia do Nó
05. Sobrescrito
06. Lisnave
07. Dia de Passeio
08. Postal Dos Correios
09. Senta-te Aí
10. Ponte do Guadiana
11. Senta-te Aí (instrumental)
Dia de Passeio
Fui às sortes e safei-me
A Fisga
O Sobrescrito
Etiquetas: joão gil, jorge palma, rio grande, rui veloso, supergrupo, tim, vitorino
