The Greatest Gig In The Sky: As cidades e a música 1: Seattle

No que à história da música diz respeito, existem determinadas regiões ou localizações que, directa ou indirectamente, foram associadas a diversas correntes musicais, seja porque serviram de fonte de inspiração a diversos artistas, porque os artistas nasciam e/ou viviam nesse local, ou simplesmente porque era um sitio porreiro para ir passar uns fins-de-semana e fritar a cabeça com drogas...

Este grupo de postas conceptuais (ou "group of conceptual postas", em inglês) pretende, não argumentar, não informar, não estatisticalizar, somente prestar homenagem às cidades que fizeram parte do conceito por trás de muita música, que fez parte de muitos dias, muitas noites, muitos risos e sorrisos, muitos casamentos, baptizados e sessões de karaoke das nossas vidas.

E vamos começar com Seattle.

Seattle é um dos maiores centros urbanísticos da costa pacífica dos U.S.A., zona Noroeste, estado de Washington, entre o Puget Sound e o Lago Washington. É conhecida como a "cidade esmeralda", em homenagem às zonas vastamente arborizadas circundantes. Foi esta cidade que celebrizou o "capuccino" e o "expresso" na América, e não é por acaso que foram aí fundadas companhias ligadas ao café como a célebre "Starbucks" ou a "Tully's".

Em termos climatéricos, é reconhecida pela elevada pluviosidade, sendo o guarda-chuva um utensílio importante durante pelo menos nove meses do ano. Um dos símbolos da cidade é a "Space Needle", uma torre com um restaurante giratório, e um dos elementos visuais mais reconhecidos da cidade. Também é em Seattle que está sediado o quartel-general da Microsoft.

Seattle é uma cidade com muitas ligações musicais.

Foi um dos principais pontos do movimento "garage rock" dos anos 60. Foi nesta cidade que nasceram e formaram-se nomes grandes da música, como Jimi Hendrix, Duff McKagan (dos Guns'n'Roses), Nikki Sixx (dos Motley Crue), Peter Buck (dos R.E.M.), Quincy Jones (produtor da Motown), ou o Kenny G... Mas a razão pela qual Seattle é realmente reconhecida no meio musical, é por ter sido o berço do "grunge".

O "Grunge" (ou "Seattle Sound") é a designação do rock alternativo específico criado e praticado pelas bandas de Seattle de fins dos anos 80, geralmente ligadas à editora independente Sub-Pop. Era rock com raiva e angústia, despido de adornos, que provocou uma revolução na música popular de início dos anos 90, saturada dos sintetizadores e do "hair-metal" da década anterior. Em Janeiro de 1992, o álbum "Nevermind" dos Nirvana tirou o "Dangerous" do Michael Jackson do topo da tabela dos discos mais vendidos prós lados do tio Sam. E o mundo ficou a conhecer o "Grunge"...

Que se tornou, inevitavelmente, uma moda (cortesia da MTV), popularizando o cabelo longo e desalinhado, as calças de ganga gastas, ou as célebres camisolas de flanela, indumentária dos lenhadores, profissão mais comum no estado de Washington. O "Seattle Sound" puro e original de bandas míticas como os Mother Love Bone, Soundgarden, Mudhoney, Green River, ou Alice in Chains (para citar algumas das bandas seminais da cena mais populares), foi eventualmente acompanhado de versões mais formatadas e "radio-friendly", como os Pearl Jam, os Stone Temple Pilots, ou os Bush. Nenhum movimento musical foi massificado para mais nenhuma razão que não fosse o lucro...

E sendo assim, percebendo que a sua relevância era puramente comercial, o "grunge" deu o toque de retirada em Abril de 1994 dramaticamente, quando Kurt Cobain deu um tiro na sua própria cabeça, marcando literalmente o ponto final. "Grunge is dead".

Para a história ficaram hinos, que acompanharam a infância e adolescência de muitas gerações, reflectindo as suas frustações, preocupações e esperança, e que são o testemunho de que nem todo o rock'n'roll que interessa foi feito antes de 1980. É claro que, sem o "grunge", não teriam existido cancros da música popular como, por exemplo, os Lit, os Silverchair, ou (novamente) os Bush, mas quem disse que este era um mundo perfeito?

A cena de Seattle ainda existe. A Sub-Pop sobreviveu à implosão do grunge, e continua à procura do próximo grande movimento, que revolucione a música popular e lhes pague a conta do gás.

And now, the boys from Seattle:

Mother Love Bone - Chloe Dancer/Crown of Thorns (versão de uns Olestra... sorry, mas o lead singer of the band morreu antes de haver video, tem que sacar o mp3 para ouvir o original)